03/05/2017
- carolinasevero
- 17 de mai. de 2017
- 3 min de leitura
Ao recordar desse dia, eu lembro o quanto ele foi produtivo.
Visitamos a aldeia de Matuba, na qual a beleza está no olhar, no sorriso e essência estonteante das crianças. É uma aldeia simples mas de riqueza espiritual imensa. As salas de aula são embaixo das árvores e as crianças são organizadas em pequenas mesas e cadeiras de plástico. Detalhe: Não há cadeira para todos e, portanto, alguns sentam no chão. Ao chegarmos lá as crianças cantavam com alegria e fervor. A cada turma que passávamos era uma canção diferente. Um encanto!
Na hora de almoçar como não havia colheres para todos, uns esperavam enquanto outros comiam. Sem choro e sem reclamações, com uma maturidade, antes nunca vista por mim em uma criança, elas somente esperavam quietinhas. Admirável!
Ainda nas proximidades da aldeia de Matuba fizemos visitação para alguns idosos e todos eles nos receberam, como de costume, com gratidão e alegria, apesar da dor nos ossos e pouca e/ou quase extinta visão. Duas vovós queridas tocaram profundamente o meu coração e vou lhes contar um pouco de cada uma.
A vovó Helena foi presenteada por um dos grupos de caravaneiros da ONG Fraternidade Sem Fronteiras (https://www.fraternidadesemfronteiras.org.br/pt-br), com uma casinha mais estruturada e confortável. A casinha é ideal, simples, aconchegante, com duas peças e uma cama. No entanto, ao chegarmos para lhe visitar, a vovó Helena não estava utilizando sua casinha nova, por conta do apego sentimental pela sua casinha antiga. Nós a questionamos, porque ao nosso ver, era algo sem razão. Todavia, ela, por sua vez, explicou que tinha medo de destruírem sua casinha, a qual tinha sido deixada pelo seu marido para ela e para a outra mulher (na cultura das aldeias é muito comum um homem ter mais de uma mulher). Explicamos para ela que a casinha não seria destruída e ela, depois de muito resistir, aceitou que ajudássemos ela com a mudança de suas coisas para a nova casinha.
Eu, por minha vez, fiquei ali, atônita, pensando. Quantas vezes pensamos que o mais bonito, mais confortável e mais aconchegante é melhor? Quantas vezes fizemos de um bem material a nossa felicidade? A vovó Helena é um exemplo digno de simplicidade pura. Ela optou por aquilo que lhe trazia bem estar espiritual e não somente um bem estar qualquer. Ela valorizou e potencializou o que estava no seu coração e não aquilo que estava nos olhos de quem somente vê, mas não enxerga. O que para nós parecia sem preço, para ela tinha profundo valor. Aprendi, definitivamente, a diferença de preço e valor.
Agora, sobre a outra vovó: Amélia. Nome que simboliza uma pessoa esforçada, guerreira e que está sempre atenta na vida. O sorriso da vovó Amélia era a maior prova do quanto ela ainda, sem razão aparente, estava atenta na vida. Ao chegarmos, como de costume, a palavra foi Kanimambo (gratidão). Ela disse que tinha dor nos olhos e que enxergava mas não com clareza. A claridade lhe incomodava e isso lhe dava dor e irritação nos olhos. Conversamos com a vovó Amélia uns bons minutinhos até chegarmos a conclusão que, de repente, um óculos de sol amenizaria sua sensibilidade no olho. Ela, por sua vez, aceitou e assim ficou de óculos de sol, sorridente, brilhando em vida, sorrindo à toa.
Para finalizar o dia tivemos um culto. Músicas, alegria, fé, amor, pessoas de religiões diversas e muita gratidão. Ouvir palavras da Bíblia no dialeto Changana é emocionante, até para quem não é praticante de nenhuma religião. Tínhamos um intérprete para a Palavra ser entendida por todos. O que me chamou mais atenção foi a leitura da Bíblia no escuro e com uma lanterna para auxiliar. Para eles, não há dificuldade. Eles querem, eles dão um jeito, jamais uma desculpa.












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